segunda-feira, 21 de abril de 2014

O Primo Basílio (parte 5/10) - Peça Teatral de Marcelo ASSIS

Luísa volta para perto de Basílio.

Basílio - No que estava pensando?
Luísa – Nada...
Basílio se ajoelha e beija a mão de Luísa que começa a chorar.
Basílio – O que foi? O que tu tens?
Basílio se levanta e começa a beijar Luísa.
Basílio – Queres que fujamos? Foge comigo! Vamos para o fim do mundo!
Luísa – Não diga tolices! Eu quero ir pra casa estou com enxaqueca!
Mudança de iluminação.
Luísa – Tu partes!
Basílio – Não! Imaginei que não me receberias a esta e usei este pretexto.
Basílio a abraça e a beija.
Basílio – Eu te Adoro, Luísa! Meu amor! Minha vida! – Ainda abraçado, dando-lhe vários beijos em todo rosto dela.
Luísa – Que susto tive!
Basílio – Verdade!
Silêncio
Basílio – No que estás pensando?
Luísa – Nada...
Basílio – Vou procurar uma casinha para que possamos estar mais á vontade....
Mudança de iluminação.
Basílio se afasta de Luísa e voltado para a plateia declama.
Basílio – Não posso ficar nem mais um segundo sem lhe dizer que lhe adoro! Mal durmo! Ergo-me de manhã muito cedo para lhe jurar que estou louco por ti e que ponho a minha vida aos seus pés! Que outros desejem a fortuna, a glória, as honras, eu desejo apenas a ti! Só a ti, minha pomba! Se amanhã perdesse o teu amor, juro-te que punha um termo, com uma boa bala, a esta existência inútil!
Basílio sai.
Luísa – Eu suspirei, beijei o papel da sua carta devotamente, porque era a primeira vez que me escreviam essas sentimentalidades. O meu orgulho dilatou-se pelo calor amoroso que saía delas. Como um corpo ressequido que se estira num banho tépido, sentia um acréscimo de estima por mim mesma! Parecia que eu entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase e a minha alma se cobria de um luxo radioso de sensações! Tenho um amante! E  o que me espanta é o fato de me sentir tão tranquila a este respeito! Afinal não é minha culpa! Não abri meus braços para Basílio voluntariamente! Tudo foi uma sucessão de fatalidades: o calor, o crepúsculo, uma pontinha de vinho! Pelo menos não estou traindo meu marido pelo vício, mas sim movida pela paixão! Quantas mulheres viviam num amor ilegítimo e eram ilustres e até admiradas! Rainhas mesmo tinham amantes! E Basílio me ama tanto! Será tão fiel e discreto! As suas palavras são tão cativantes, os seus beijos tão estonteadores! – pausa - Que idiota! E toda feliz fui encontrá-lo no nosso ninho de amor que ele batizou de Paraíso
Mudança de iluminação.
Basílio entra.
Eles se beijam ardorosamente e fazem amor.
Mudança de iluminação.
Luísa – Lentamente, ao ver a minha docilidade, tu, sem nem ao menos, se constranger, me usou como se me pagasse!
Basílio – Não digas bogagens.
Luísa – Me submeti na cama as coisas que considerava degradantes só para agradá-lo! E tu como me retribuías? Às vezes nem ia ao Paraíso, sem nem ao menos se dar ao trabalho me avisar! E falava comigo quase sempre com um ar de superioridade! Às vezes me tratava com uma secura áspera, com certos tons de indiferença! Não sei por que me dar ao trabalho de vir!
Basílio – Se queres não venhas!
Luísa – Obrigada!
Basílio – Tu és muito ingrata! E eu que estou em Lisboa só por sua causa!
Luísa – É o que dizes! Mas o que vejo é um total desprendimento seco por mim, pela minha reputação e pela minha saúde! Todos na minha rua falam de mim, a poeira que tenho que enfrentar para chegar até aqui acaba com a minha saúde, o que ti importa? E para que passo por tudo isso? È óbvio que a cada dia tu me amas menos! Já não existe mais aqueles arrebatamentos de desejos que me envolviam numa carícia palpitante, nem aquela abundância de sensação que te fazia cair de joelhos com as mãos trêmulas com as de um velho! Agora! Tocado o último beijo, tu acendes o seu charuto e depois começas a se pentear diante do espelho! Às vezes, tu olhas o relógio com se eu estivesse te entediando!
Basílio – Estás loucas!
Luísa – Estava antes, porque agora recuperei a razão!  Tu não me respeitas, me trata por cima do ombro, sempre falando do espírito de madame tal, nos modos de condessa de tal, como se eu fosse estúpida! Parecendo que fazia uma grande honra em me possuir! Jorge não, para ele eu sou a mais linda, a mais elegante, a mais inteligente e a mais cativante! Foi por isso que Sacrifiquei minha felicidade? por um amor tão incerto? Percebo que tu se aborreces, que o seu grande amor tinha passado, que por isso é muito humilhante para mim continuar nessas condições, por isso, acredito que é mais digno acabarmos...
Basílio começa a rir.
Basílio – Trazias isso decorado?
Luísa – O cada instante o meu desprezo por ti só aumenta!
Basílio –Estás louca?
Luísa – Estou farta, Basílio!
Basílio – Mas meu amor!
Luísa – São ridículos esses teus fingimentos!
Basílio – O que queres tu? Queres que te ame como nos teatros? Queres que me atire de joelhos, que declame, que revire os olhos, que faça juras e outras tolices?
Luísa – Tolices que tu fazias..., adeus!
Basílio – Vais mesmo?
Luísa – Vou. É melhor acabarmos por uma vez...
Basílio – Tu falas sério?
Luísa – Decerto. Estou farta!
Basílio – Então é para sempre e nunca mais?
Luísa começa a chorar.
Basílio cai aos seus pés.
Basílio – Se me deixares, morro!
Basílio se levanta e beija Luísa.
Basílio – Não me deixes nunca!
Luísa – Te juro! Nunca, meu amor!
Basílio – Vou pegar champagne!
Basílio sai e retorna com uma garrafa de champagne.
Luísa – Tu esqueceste os copos.
Basílio – Não esqueci não! Essa não é a maneira certa se tomar champagne.
Luísa – como é então?
Basílio – Ninguém, que se preza toma champagne num copo, isto é bom para a escória.


Basílio toma um gole da garrafa e dá um longo beijo em Luísa.

(continua na parte 6/10)

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Marcelo Assis da Silva é Técnico de Finanças e Controle Externo e atua na Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas. Estudou roteiro na Escola de Cinema Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro e montou e dirigiu o espetáculo “Swing Tântrico” também no Rio de Janeiro. “O Primo Basílio” é uma adaptação teatral do romance de Eça de Queiroz.

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