E Sidarta Gautama ultrapassou os
portões de Amhitar! Acompanhavam-no sete pombas (símbolo do atrevimento), sete
virgens (símbolo do futuro), sete nuvens (símbolo da transição) e sete monges
(símbolo da permanência). Cruzou oito rios, subiu nove montanhas e, na beira de
dez lagos, encontrou onze figueiras, com ramos que se espalhavam por doze
países.
Sentou-se e não fez a posição de
lótus para decepção dos 776 que então já o seguiam. Não sorriu e nem chorou
[embora metade dos testemunhos tenham dito que sorria, e a outra metade que
chorava]. Olhou a paisagem [que para uns era belíssima, e só um grande homem
poderia ter escolhido um lugar tão maravilhoso; para outros era um recanto
tosco, e apenas a presença da centelha da divindade o fazia cheio de
esplendor]. Seus olhos semicerraram. Não falou, não fez.
E cinco milênios se passaram [na
percepção talvez não muito literal das pessoas que o seguiam]. Levantou-se [e
os quatro grupos de sete que o acompanhavam levantaram-se também]. Calçou as
sandálias, refez o caminho dos lagos, das montanhas e dos rios e foi embora em
seu destino.
Um menino [dizem] o fez falar.
Perguntou o que pensou debaixo da figueira. As versões se dividem. Uns, que ele
disse não pensar em nada. Outros, que nada disse: sorriu e prosseguiu com seu
caminho e suas sandálias. Outros, que ele afirmou que não se pode se pode
pensar no nada, pois o Nada também é uma
coisa, e pensar em Nada não é pensar em Nada.
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Este conto faz parte da série de
366 contos do gênero fantástico
Efemérides de Amhitar,
publicada ao longo de 2013, todos com um máximo de 1500 espaços.
O auditor Paulo Avelino atua na
Secretaria Regional do Ceará e escreve contos e Direito Administrativo.
É um dos coordenadores deste blog.