O amor e o vazio
Carol estava no balcão da biblioteca de sua
faculdade, devolvendo o livro As Pontes de Madison, quando Pádua chegou
para tomá-lo emprestado.
Os dois se entreolharam e de súbito explodiu uma recíproca atração, não foi possível disfarçar. Sorriram meio sem graça, começaram a conversar frivolidades e terminaram trocando telefones.
No outro dia, Pádua ligou pra Corol, convidando-a para tomar um café, no intervalo das aulas, para trocar impressões sobre o livro. Daí em diante, os encontros foram se sucedendo e antes de Pádua chegar ao último capítulo, os dois já estavam namorando e muito apaixonados.
Quando terminaram a faculdade casaram-se, cheios de planos e sonhos: viajar, construir uma casa, ter filhos.
No entanto, em pouco tempo de convivência, devido a
ciúmes mútuos, o casamento começou a ruir, e dia após dia a situação piorava.
Antes mesmo de completarem dois anos de casados, Carol e Pádua se separam,
enterrando, assim, os planos que fizeram
e os sonhos que sonharam juntos.
Embora o relacionamento já estivesse bastante
desgastado, o rompimento foi muito doloroso. Para diminuir o sofrimento, Carol
resolveu mudar de ares, foi morar uma temporada em São Paulo. Só retornou à
Brasília quatro anos depois. Durante todo esse tempo, não teve notícias de
Pádua.
Um dia, Carol estava almoçando na praça de
alimentação do Park Shopping, quando de repente vê Pádua na fila de um
restaurante. Ficou meio cabisbaixo, pois não queria que ele lhe visse. Continuou
comendo, mas olhando, de través, que direção Pádua iria tomar. Ficou aliviada
quando ele se sentou distante, meio de costas, de modo que Carol o via sem ser
vista.
Ela então fez uma retrospectiva acompanhada de
reflexões. Lembrou do dia em que o conheceu no balcão da biblioteca e da
incontida atração que ele lhe provocou. Das emocionantes e divertidas
travessuras: as fugidas da faculdade para os motéis; as maravilhosas viagens
que fizeram; as gargalhadas que deram pelos episódios bizarros que se
envolveram, os filmes que assistiram, jogando pipocas um no outro. Recordou das
juras e sonhos que não se concretizaram, do amor que deixaram morrer e dos
filhos que não tiveram.
E agora está aquele mesmo homem ali, em sua frente, sem fazê-la sentir nada, absolutamente nada. Nenhum sentimento se move: nem de amor, nem de ressentimento, nem de raiva, nem de rancor, nem de desprezo. O que restou de tudo foi somente uma enorme indiferença. E o mais triste, Carol não deseja mais sentir o que um dia sentiu por Pádua e por mais ninguém. Quer deixar desocupado, para sempre, aquele vazio interior.
A vontade de permanecer
daquele jeito, não ter mais sentimentos, o desejo de nunca mais ter desejo, de
viver tudo que viveu sufocou-lhe, provocando uma grande aflição. Quando
imaginou que o Pádua pudesse está sentindo, também, toda aquela apatia por ela,
foi tomada por uma profunda angústia. E em meio aquele tormento interior,
levantou-se e desapareceu andando entre as pessoas.
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Waucilon
Carvalho Sousa ingressou no TCU em 1981, atualmente trabalha no ISC.
Alfabetizador, voluntário, de jovens e adultos, desde 1975. Fundador da
escolinha de alfabetização do Tribunal.
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