Luísa se solta.
Basílio
- Perdoa-me! Foi sem pensar. Mas é porque te adoro, Luísa! Desde o primeiro dia que voltei a ver-te que
eu estou doido por ti, como era em Sintra! Na verdade, nunca deixei te de ser
louco por você! Mas não tinha fortuna, tu bem o sabes e queria que fosse rica e
feliz! Tu morrerias no Brasil, por isso não poderia levar-te comigo, tu
imaginas o que era aquilo?
Luísa
– Às vezes me imagina entre coqueiros, embalada numa rede, cercada de
negrinhos, vendo papagaios a voar!
Basílio
– É muito pior do que isto! Tu não sabes o horror que é viver naquela terra!
Foi por isso que escrevi aquela carta! Mas se tu soubestes o quanto eu sofri!
As lágrimas que chorei! Fala, responde!
Luísa
– O que queres que eu te diga? – murmurando.
– Falemos de outras coisas!
Basílio
– Luísa!
Luísa
– Não Basílio, não!
Basílio a beija, Luísa se solta.
Luísa
– Oh meu Deus! É horrível! Deixa-me! Deixa-me! Que fazes tu ainda aqui? Vá
embora!
Basílio sai.
Luísa
– E eu como uma tonta achei que tu ainda me amavas e que inclusive a melancolia
da separação era a causa dos seus primeiros fios de cabelo branco.
Mudança de iluminação.
Basílio entra.
Basílio
– Por que tu achas que vim a Lisboa?
Luísa
– Por causa dos teus negócios?
Basílio
– Por causa de ti?
Luísa
– Por mim?
Basílio
– Por quem mais? E nem sei se tu tens um bocadinho de amor por mim – mostrando o comprimento da unha - tens?
Luísa – Assim talvez..., mas Basílio, a rua
que eu moro é muito pequena e com uma casa quase amontoada sobre a outra, e o
Sebastião, que é o melhor amigo do meu marido já veio me informar, que já andam
comentando a nosso respeito..., o meu marido viaja e logo a seguir um homem que
eles nunca viram começa a frequentar a casa...
Basílio
– Entendo..., aliás, só de olhar se percebe que é uma gentalha horrorosa que
vive nesta rua! Não sei como tu aguentas!
Mas sei como resolver esse problema e só tu apenas atenderes ao meu
pedido?
Luísa
- Que pedido?
Basílio
– Venhas comigo ao campo!
Luísa
– Assim, tu acabas de vez com a minha reputação?
Basílio
– Nós não nos encontraremos aqui! Tu irás me encontrar em lugar longe daqui! Eu
estarei de esperando dentro de uma carruagem!
Luísa
– Eu não sei...
Basílio
– Do que tens medo? É apenas um passeio de irmãos!
Luísa
– Nós não somos irmãos!
Basílio
– Foi só se casares com um burguês, que se tornares uma beata! Vou embora
então!
Luísa impede Basílio.
Luísa
– Talvez eu possa...
Basílio
– Diz que sim!
Luísa
– Amanhã falaremos a esse respeito!
Basílio
– Perfeito – Basílio começa a sair – Sabes que estou pensando em partir?
Luísa
– Por quê?
Basílio
– Que diabo faço aqui?
Luísa
– Está tão quente e seco em Lisboa nesse verão! Penso que Sintra deva estar
linda!
Basílio
– Eu acredito que sim! Mas pena que tu não queiras ir ao campo! Podíamos fazer
um passeio adorável! Podemos ir a um
quinta de um amigo que está em Londres, podíamos levar gelo e champagne...,
vem!
Luísa
– Talvez, no domingo.
Mudança de iluminação.
Basílio
– Quando estou perto de ti sinto-me tão feliz, tudo me parece tão bom!
Luísa
– Se isso fosse verdade...
Basílio
– É verdade, tanto –e, que pretende me mudar para Lisboa para viver aos seus
pés como um vassalo, já falei até com um procurador, um seco de nariz agudo...,
se fosses verdade, o que fazias?:
Luísa
– Nem eu sei... – afastando de Basílio
– Só sei que adoraria morar numa quinta, longe da estrada, numa casinha fresca
com trepadeiras em volta das janelas, parreiras, sobre pilares de pedra, pés de
roseiras numa ruazinha amável com árvores entrelaçadas, onde ao escurecer, nós
um poucos quebrados das felicidades da sesta iríamos pelos campos, ouvindo
calados, sob o céu que se estrela o coaxar triste das rãs.
(continua na
parte 5/10)
@@@@@
Marcelo Assis
da Silva é Técnico de Finanças e Controle Externo e atua na Secretaria de
Controle Externo de Aquisições Logísticas. Estudou roteiro na Escola de Cinema
Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro e montou e dirigiu o espetáculo “Swing Tântrico” também no
Rio de Janeiro. “O Primo Basílio” é uma adaptação teatral do romance de Eça de
Queiroz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário