Mudança de iluminação.
Leopoldina - O que é? O que
tu tens para estares tão perturbada?
Luísa – Um horror, Leopoldina! -Luísa começa a chorar – a Juliana está
em poder de umas cartas! Quer seiscentos mil-réis! Estou perdida! Ela tem me
martirizado! Sou eu que faz tudo em casa..., até os despejos!
Leopoldina – E tuas joias?
Luísa – Não valem tanto? E o que
diria para Jorge!
Leopoldina – O que eu tenho
também não vale tanto! Que diz as cartas?
Luísa – Sandices! Uma minha e
duas dele!
Leopoldina – Do teu primo?
Luísa – De quem mais haveria de
ser?
Leopoldina – Por que ele não era
não lhe dá o dinheiro?
Luísa – Eu escrevi uma carta
explicando a situação e lhe pedindo dinheiro o dinheiro, mas não obtive nenhuma
resposta!
Leopoldina – Pulha! Eu sei quem
pode te dar este dinheiro!
Luísa – Quem?
Leopoldina – Um homem...
Luísa – Que homem?
Leopoldina – O Castro!
Luísa – Que Castro? O banqueiro!
Como tu sabes disto?
Leopoldina – Ele disse ao
Mendonça! Disse que te daria tudo que pedisses!
Luísa – Que horror! E tu propões-me semelhante coisa?! Ir com um
homem por dinheiro?
Prefiro ir para um convento, ser
criada, apanhar a lama das ruas!
Leopoldina – Antes de padeceres
neste mar de calamidades, tu já pensastes que ele pode ter dá o dinheiro
desinteressadamente...
Luísa – Tu acreditas mesmo nisso?
Leopoldina – Não! O que importa?
Ele pode dar-te um conto de réis, talvez dois! Tu estarias salva e feliz!
Luísa – É indecente! É horrível!
Leopoldina – Ah se fosse eu!
Luísa – Que tu farias?
Leopoldina – Não estaria a sofrer
feito tu!
Luísa – Mas graças a Deus, eu não
sou como tu! Perdoar-me, perdoa-me! Estou doida e não sei o que digo!
Leopoldina – Tu zangas-te! Mas é
para o seu bem! É o que a mim me parece ser o melhor! Se eu pudesse te dava o
dinheiro..., fazia tudo. Acredita! - Leopoldina
indicando o corpo – seiscentos mil-réis! Se eu valesse tanto dinheiro, tinha-o
amanhã!
Chorando ambas se abraçam e se consolam.
Mudança de iluminação.
Luísa – Chame o Castro,
Leopoldina! Preciso do dinheiro, emprestado, ou dado! Jorge que demitir Juliana
e com certeza ela vai se vingar!
Leopoldina – Mas assim de repente
Luísa?
Luísa – O Castro vai amanhã para
Bordéus! Temos que agir agora!
Leopoldina começa a escrever um bilhete.
Leopoldina – Vê se gostas: Meu
caro amigo. Desejo absolutamente falar-lhe. É um negócio grave. Venha logo que
possa. Talvez me agradeça. Espero até às três horas, o mais tardar. Com toda a
estima, sua amiga Leopoldina.
Luísa – Horrível! Mas está
bem..., mas corte o talvez me agradeça, eu acho que fica melhor!
Leopoldina – Essa parte temos que
deixar, é a isca para o peixe. Ou tu achas que um homem na posição dele, tendo
que viajar amanhã, virá correndo, só porque eu mandei chamá-lo?
Luísa – mas ele pode ficar com
ideias erradas...
Leopoldina – Ora bolas, não é
isso que queremos?
Luísa – Tá certo! Mas o que eu
vou dizer a ele?
Leopoldina – O que tu deves
dizer? Que tu precisas de um conto de réis, ou de seiscentos mil-réis e que lhe
paga!
Luísa – Como?
Leopoldina – Em afeto!
Luísa – É horrível!
Leopoldina começa a gargalhar.
Luísa – tu dizes que é minha
amiga, mas estás a rir, a escarnecer...
Leopoldina – Mas também que
pergunta tola! Como tu não sabes como vai pagar?
Leopoldina sai gargalhando.
Mudança de iluminação.
Leopoldina entra.
Leopoldina – O que tu fizestes ao
Castro?
Luísa – Deu-me uma coisa e eu
acabei pegando o chicote dele e dei-lhe uma boa surra!
Leopoldina – Não acredito! – Leopoldina desata a rir – o Castro
coberto de chicotadas! Com aquele tamanho todo levou uma coça de uma mulher do
seu tamanho! O Castro veio na casa de uma amiga, levar uma facada de seiscentos
mil-réis e acaba sendo expulso a chicotadas!
Luisa também começa rir e as duas se abraçam.
(continua na parte 3/10)
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Marcelo Assis da Silva é Técnico de Finanças e Controle Externo e atua na Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas. Estudou roteiro na Escola de Cinema Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro e montou e dirigiu o espetáculo “Swing Tântrico” também no Rio de Janeiro. “O Primo Basílio” é uma adaptação teatral do romance de Eça de Queiroz.
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