Abdul Al-Wazahari bradou na
décima-sétima [e a segunda mais estranha] de suas Crônicas que no dia de hoje [15 de Muharram da Hégira] três homens
tiveram ao mesmo tempo três sonhos cada. [O fato de nenhum dos três lembrar
nada dos dois primeiros sonhos e do cronista não registrar o ano em que tal
acontecimento se deu em nada aumenta a credibilidade de sua história.] No
terceiro dos sonhos, um Fhiurzzim
[equivalente ao gênio das Arábias] mostrava sucessivamente um descampado com
alguns pedregulhos; um capinzal com arbustos que não passavam de um palmo; e
uma selva tão fechada que os povos que
viviam no chão não tinham nenhuma ´tradução para a frase “luz do sol”, pois não
a conheciam.
[Como costuma acontece em tais
sonhos] uma voz se ergueu – disse que Amhitar fora e seria todas essas fases –
e cabia aos homens descobrir quando e em qual ordem – e então cada um dos
homens acordou.
Tal relato teria ficado como um
delírio do grande cronista se seis séculos depois Ramsheed-Barumi-N´gaar, um francês batizado de Augustin de
Saint-Hilaire, não a tivesse levado surpreendentemente a sério. Durante
duzentos dias [e levado por sua energia juvenil] teria cavoucado o solo do
Amur-Daria atrás de fósseis de grandes árvores. Não as encontrando, interpretou
as crônicas ao reverso e concluiu que a floresta se situava exatamente do outro
lado do mundo, e foi buscá-la. Dizem que a encontrou, embora tal afirmação não
seja incontroversa.
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Este conto faz parte da série de
366 contos do gênero fantástico Efemérides de Amhitar,
publicada ao longo de 2013, todos com um máximo de 1500 espaços.
O auditor Paulo Avelino atua na
Secretaria Regional do Ceará e escreve contos e Direito Administrativo. É um
dos coordenadores deste blog.
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