O sermos nós
HUMANISMO
Passageiro
do tempo, no vagão dos sonhos,
chego à estação da reflexão, onde são postos ao exame dos viajantes os produtos
que fazem a construção da existência. No recôndito dos lares, no aconchego da
família, núcleo básico e essencial da Nação, recolhem-se os fundamentos da solidariedade,
da obediência e respeito, do amor fraterno, da doação, renúncia e crença no amanhã.
Nas ruas da minha cidadezinha do
interior, a paz passeava descompromissada, sem receios da violência, falando de
amor com os olhos fixos nas cadeiras da calçada onde os vizinhos discorriam sobre
os fatos do cotidiano, da política ao futebol e, invariavelmente, sobre chuvas,
inverno e produção, riqueza extraída da agricultura através das mãos limpas e calejadas
do homem do campo.
Viva-se à época das cartas e
telegramas, que traziam notícias da metrópole e, informavam sobre a vida dos
que migravam em busca de melhores oportunidades de emprego. Hoje o facebook. o
whats app., através da Internet, aposentaram o código código Morse e o faz,
dissipando na velocidade dos inventos, os encontros familiares, em parte já
dispersos pelo trabalho e o crescimento populacional urbano. Eis o tempo em que
falamos com mais facilidade com os mais distantes do que os mais próximos.
A evolução da ciência e da
tecnologia, fruto da capacidade criadora do ser humano, esqueceu-se dos valores
primordiais, essenciais à comunidade. Relembrando o compadrio das festas
juninas, da mão estendida ao próximo, da educação ensinando e sobretudo cuidando
da formação cidadã, reclamamos a necessidade de recolhermos três opções fundamentais
extraídas da gramática, com o objetivo da construção de um mundo onde haja a
prevalência do humanismo sobre o avanço avassalador de um materialismo sufocante
e sem alma. Falo da opção gramatical pelo artigo, pronome e pelo verbo.
Entre artigos definidos e
indefinidos, o primeiro ressalta a procura da qualificação. A pessoa deve ter presente
o desejo de ser o profissional e não um profissional. Com essa opção, registra seu
compromisso com a causa que abraça, o mergulhar de cabeça naquilo que faz. Em
relação ao pronome, destacam-se a nitidez e a solidariedade do Nós na edificação
de um mundo melhor, distante do egoísmo do Eu, que imagina tudo poder e fazer. Lembro
nesta hora a grande lição do Mestre trazendo a presença do homem e da mulher
para a concretização da vida.
Por fim a opção pelo verbo.
Diante do Ter, de que todos necessitam para viver, há uma observação a ser feita.
Precisamos Ter na medida exata de essencial. A busca desenfreada de muitos em
Ter sempre mais e mais lhes retira a possibilidade de Ser. Portanto, a opção
pelo Ser deixa evidenciado à luz da experiência e dos fatos: quem
procura obsessivamente Ter jamais será, e, para os que buscam Ser o Ter vem
como consequência natural. Necessitamos, então, investir nos valores do
humanismo, sedimentando a ética e a moral na formação das gerações. Esta é a
revolução que está posta diante dos olhos da humanidade.
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Ubiratan Diniz de Aguiar é Ministro aposentado do Tribunal de Contas da União e membro da Academia Cearense de Letras. Reside atualmente em Fortaleza (CE)
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