Questionário Proust, com o videomaker Júlio Cat (Semag)
Ponto do Humor, com o cronista Paulo Avelino (Secex-CE)
Resenha de Livro: Marcos - um livro surpreendente
&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&
Questionário Proust com o cineasta/videomaker
JÚLIO CAT
Júlio Cat ao estilo de Van Gogh |
1)
O que você consideraria o cúmulo da miséria?
A classe média unicamente preocupada no seu bem-estar, e
esquecendo da parcela miserável da população.
2)
Onde você gostaria de viver?
Canadá
3)
Qual é a sua ideia de felicidade terrena?
Mais Igualdade econômica em todos os níveis e liberdade
de pensamento e comportamento para todos.
4)
Quais falhas você tolera mais?
Intelectuais e de organização.
5)
Quem são os seus heróis favoritos de ficção?
Inspetor Closeau (dos filmes da Pantera cor de rosa) e o
Vagamundo (de Charlie Chaplin).
6)
Quem são os seus heróis favoritos da vida real?
Francisco de Assis e Charlie Chaplin.
7)
Quem são suas heroínas favoritas da ficção?
Capitu (de Dom Casmurro) e Diadorim (De Grande Sertão
Veredas).
8)
Quem são os seus personagens favoritos da história?
Karl Marx e Antônio Conselheiro
9)
O seu pintor favorito?
Salvador Dalí
10) Seu músico favorito?
Chico Buarque
11) A qualidade que você mais admira em
um homem?
Justiça
12) A qualidade que você mais admira em
uma mulher?
Coragem
13) Sua virtude favorita?
Criatividade
14) Sua ocupação favorita?
Criador de vídeos de ficção
15) Quem você gostaria de ter sido?
Charlie Chaplin
16) Que trabalho de arte seu você mais
gosta? Há uma história por trás dele?
Gosto muito do meu vídeo “Estacionamento provisório”, que
trata, de forma satírica, das agruras vividas pelos servidores no
estacionamento provisório (de brita) do Tribunal, utilizado enquanto quando da
construção dos novos anexos do TCU.
A ideia do filme veio naturalmente, uma vez que as
situações vividas por todos no estacionamentos, diariamente, eram realmente
trágico-cômicas. E o interessante foi a grande quantidade de servidores e até
estagiários que participaram do filme.
https://www.youtube.com/watch?v=cNGo8iSz40w
https://www.youtube.com/watch?v=cNGo8iSz40w
https://www.youtube.com/watch?v=cNGo8iSz40w
PAULO AVELINO
AS AVENTURAS DO DETETIVE ARTEMIDORO BALSEMÃO (O HERÓI CONTRA A CORRUPÇÃO)
Operação Suja-Prato, a Primeira
[Esta reportagem fará manchetes
em Nova Iorque, Japão e na minha saudosa Santa Rita do Jucurutuca e reparará
uma injustiça, em prova que eu realizei a primeira dessas portentosas operações
- a Operação Suja-Prato].
O Velho Detetive e
seus Estagiários
relaxados antes da operação,
sabendo que seria tranquila
|
Estava este velho Detetive em encontrozinho íntimo privê com Nicole Kidman, Angelina Jolie
e Irina do-Cristiano-Ronaldo quando a voz gasguenta e fanhentosa da minha
secretária Cacilda Regielena me acordou: eu estava sendo convocado a resolver o
caso de um roubo de um picolé de limão, já meio lambido.
Orgulhoso de que finalmente
conferiam um trabalho à minha altura, dirigi-me ao indigitado local. Como o
menino vítima do roubo negaceava o depoimento, prometi-lhe três figurinhas do
Jaspion [que ele não conhecia] no primeiro caso de delação premiada [também
inaugurada por este veterano Detetive].
E
descobri que não se tratava de um picolé lambido. Mas de cinco. Na verdade, cinco
mil. E sequer eram picolés. O caso picoleiro se entranhava com uma complexa
trama envolvendo mísseis balisticos intercontinentais e a fórmula secreta para
chicletes que não derretem na boca e 7.539 pessoas, as quais interroguei todas,
cada uma indicando dezessete novos implicados.
Após uma manhã inteira envolvido
nesse exaustivo trabalho, passando os olhos na lista de 19.756.793 denunciados,
vi, no final da lista, o meu próprio nome.
A Corrupção está em
todos os lugares.
Estagiários-detetives apuram
se há algum protozoário
envolvido.
|
Homem imparcial que sou,
convoquei-me para depoimento, prometendo, a mim mesmo, um encontro privê com Nicole Kidman, etc., como
recompensa. Coisa que não vai acontecer, pois sei que no final terei apenas a
pilha de pratos lá na quitinete para lavar – daí o nome da pioneira operação.
...
Artemidoro Balsemão estudou na Escola contra o Crime de Batman e
Robin – foi expulso pois se deixou enganar pela Mulher-Gato, que lhe prometeu
casamento e até hoje.
&&&&&&&&&&&&&&
A Espiritualidade do Burocrata
HAMMARSKJÖLD,
Dag. Marcos. Tradução de W.
H. Auden. Prefácio de Jimmy Carter. Nova Iorque: Vintage Books, 2006. 222p.
A Vida de Simplicidade abre
para nós um livro no qual nunca somos
capazes de passar da primeira sílaba e do homem que escreveu isso
dificilmente se pode afirmar que teve uma vida simples.
Dag Carl Hammarskjöld nasceu em
1905 cercado de privilégio, desde o pai, antigo primeiro-ministro da Suécia. Doutor
em economia aos vinte e cinco anos, começou uma carreira de funcionário público
profissional, desenvolvida principalmente dentro do banco central sueco. Depois
da Segunda Guerra entrou na esfera internacional, representando seu país nos planos
de reconstrução da Europa e como membro da delegação sueca junto às Nações
Unidas.
Carreira esta que atingiu seu
auge quando para sua surpresa o Conselho de Segurança da ONU recomendou seu
nome para Secretário-Geral da organização. Foi eleito em 10 de abril de 1953.
O líder da ONU deveria navegar em
um mundo partido em dois blocos liderados por potências nucleares e em geral o
sueco conseguiu contornar bem os obstáculos. Que se tornaram ainda maiores
quando as antigas colônias africanas entraram em processo de formar novos
estados nacionais – nem sempre de maneira pacífica.
Entre os conflitos que pululavam
o Secretário-Geral da ONU voava de um lugar a outro no continente africano, em
busca de acordos de cessar-fogo. Em uma dessas viagens o Douglas DC-6B no qual
viajava estatelou-se no chão na Zâmbia em 18 de setembro de 1961, deixando
suspeitas de atentado que perduram até hoje.
Entre seus papéis encontraram uma
carta a um amigo seu, outro funcionário público sueco. Dag deixava para o amigo
as suas anotações pessoais. Este publicou-as e o resultado é o livro Marcos.
Hammarskjöld conheceu
virtualmente todas as pessoas importantes de sua época, de presidentes a reis.
Viveu na segurança e no conforto. No entanto seu diário não fala de política e
se fala de sucesso é para se referir à sua falta de sentido. O livro trata das minhas negociações comigo mesmo – e com Deus.
Marcos não possui uma unidade – são pensamentos soltos, pequenos
poemas, textos de dez ou quinze linhas que o autor acumulou desde a juventude. A
temática lhe fornece a coerência. O homem que vivia em hotéis de luxo e
banquetes e negociações de alto nível escrevia à noite algo como: Que Deus tenha tempo para você lhe parece
tão certo quanto o fato de que você nunca tem tempo para Ele. Ou: Tudo no presente momento, nada para o
presente momento. E nada para seu futuro conforto ou para o futuro de seu bom
nome. Ou: Em muitas matérias a
profunda seriedade só pode ser expressa em palavras leves e divertidas. Ou:
não somos nós que buscamos o caminho – é
o Caminho que nos busca.
Dag Hammarskjöld viveu a
burocracia no que ele tem de mais tradicional – carreira, estabilidade,
negociação. Os problemas que tentava resolver quase nunca o atingiriam
pessoalmente. Mas empenhava-se em resolvê-los, pois era sua missão burocrática.
E, para esse burocrata, a burocracia incluía também o espiritual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário