Caga-sebites |
Hermógenes era criador de caga-sebites, um passarinho pelo
qual ninguém jamais deu um vintém furado. Outros, sequer ouviram falar dessa
ave. Alguns talvez conheçam o sebite, um cerebídeo de nome científico Coereba
Flaveola Chloropyla, de porte pequeno, costas acinzentadas, peito amarelado e alguns
traços brancos espalhados pela cabeça, papo e extremidade das asas. Uma espécie
de bem-te-vi em miniatura. O detalhe é que só sabe piar. Mas não é aquele piado
vistoso, sonoro e repetido dos pintos de raça. É antes um piado isolado, sem
força, com timbre de palha seca.
Pois bem, o caga-sebite, um tiranídeo de nome científico
Phyllomyias Fasciatus, tem o dorso esverdeado e o peito amarelado, distribuídos
de forma mais homogênea que seu primo menos desconhecido. Em suma, é uma versão
genérica do sebite, ainda mais sem graça, menor em tamanho, com a desvantagem
de não saber sequer piar. A única coisa que sabe fazer é cagar, e o faz em
profusão. A cada duas bicadas em qualquer alimento, libera uma remessa pastosa
pela cloaca, numa incrível rapidez digestiva. Daí porque alguém, juntando sua
semelhança física – um sebite anão – com sua única proeza, deu-lhe o nome
adequado: caga-sebite.
Sebite |
Há que se perguntar: o que quereria Hermógenes ao criar
caga-sebites? Ora, ele era orquidófilo, daqueles que têm esse hábito como
religião e leem tudo a respeito das espécies. Em suas pesquisas, descobrira que
as orquídeas, ou pelo menos o tipo que cultivava, adoravam adubo fresco. E nenhuma
fonte dessa matéria-prima era mais inesgotável que os caga-sebites.
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Declaro, sob as penas da lei, que
sou auditor (do TCU), escritor (mediano), poeta (medíocre), católico e
ecologista (em ambos, não praticante), compositor musical (licenciado) e
artista plástico (bisonho). Nos últimos 35 anos, extremamente preocupado com os
meus deveres e completamente desatento com os meus direitos.
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