Há cinco
atrás, veraneei pela primeira vez com a família em Tabatinga, de onde veio o
aprendizado que ora compartilho. Imagino que as mesmas cenas se repitam nos outros
nove mil quilômetros restantes da costa brasileira. A Barra de Tabatinga, como
outros presentes que a natureza deu ao Rio Grande do Norte, é um pedaço de mar,
com piscinas naturais, mornas e cristalinas, e paisagem fascinante. No primeiro
contato, choquei-me, ao ver tanto lixo espalhado pela areia, ante o olhar
complacente de todos.
Surgiu então
a ideia de fazer um mutirão de limpeza. E parti com meus filhos para
arregimentar frequentadores. Os motivos dados para não participar do mutirão
foram muitos. Uns justificaram que usavam pouco a praia; que estavam apenas
veraneando. Outros alegaram problema de coluna, apesar de toda a elasticidade
demonstrada ao caminhar. Alguns falaram que não eram garis; que aquilo era
dever da Prefeitura; que não iriam limpar a sujeira dos outros.
Algumas
pessoas de bem, como o astrofísico Renan Medeiros, o poeta Marcelo Castro,
alguns rotarianos, e suas famílias, aderiram ao movimento. Ação planejada,
começamos a limpeza, com cerca de vinte voluntários. Uma senhora de quase oitenta
anos me emocionou ao juntar-se ao grupo.
Durante a
tarefa, havia os que apressavam o passo, fingiam não ouvir os chamados, e os
que, de varandas confortáveis, degustavam geladas cervejas com os amigos e nos olhavam,
ora com a aquela cara de “quem não tem nada com isso”, ora com expressão de deboche.
Nessas horas de estupidez explícita, lembrava-me da frase de Jesus: “Perdoa-os,
pois eles não sabem o que fazem”.
Os lixos encontrados
foram os mais variados: de embalagens de picolé a sacos de farofa; de garrafas pet,
a frascos de protetor, latas e garrafas. Recolhemos ainda apetrechos de pesca e
canudos. Entre os lixos exóticos, preservativos, braço de boneca inflável,
fraldas descartáveis, absorventes femininos, tampinhas e uma infinidade de
outras “milacrias” descartadas pela ausência de consciência e, principalmente,
de inteligência! Dentre os lixos menos ofensivos, estavam os palitos de picolé
e os cascos de coco verde.
Aquele nosso primeiro
mutirão na Praia de Tabatinga recolheu 90 sacos de 100 litros, cheios de
lixo jogado na areia por mamulengos
humanos, levando à morte o planeta onde vivem, e retransmitindo o mesmo
comportamento aos seus filhos, sobrinhos e netos.
No dia
seguinte, fomos caminhar na praia e vimos que o ciclo se reiniciava, com a
mesma estupidez de antes, havendo à beira-mar, na mesma área da coleta anterior,
lixo suficiente para encher pelo menos mais um saco dos que nós usamos na
véspera. Nos anos subsequentes, tenho voltado ao mesmo lugar. E constato que a situação
persiste. Temos repetido a operação, lá e em outras praias. Mas vemos que os marginais ambientais – não há outro
adjetivo que os defina – têm deixado suas marcas em todos os cantos, de maneira
incansável, colocando à prova a persistência do bem, na constante luta contra o
mal.
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Declaro, sob as penas da lei, que sou auditor (do TCU),
escritor (mediano), poeta (medíocre), católico e ecologista (em ambos, não
praticante), compositor musical (licenciado) e artista plástico (bisonho). Nos
últimos 35 anos, extremamente preocupado com os meus deveres e completamente
desatento com os meus direitos.
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