No dia 24 de maio de 1923 Juju
Shilmora [mostrando ousadia da qual um par de segundos antes não se sentiria
capaz] desfez o laço da falsa cintura. O négligée cinza se amontoou aos seus
pés e a partir de então só o flash da filmagem cobriu sua nudez de vinte e um
anos cabelos na cintura e olhos negros – entrou para a história como uma das
únicas sete garotas que posaram nuas em Amhitar até 1990. A estatística [de
confiabilidade sofrível] se deve ao atual Círculo
Pudico-Moralista de Amhitar.
Certo relatório da Seccional do
Turquestão afirmou então que as moças do país se marcavam pela timidez quanto a
certos assuntos – e o país pela baixa natalidade. As trêmulas mãos de Lênin garrancharam
ordem para um filme de propaganda nas escolas femininas.
O filme consistia só em uma voz
em off exaltando o potencial da mulher para a revolução, o trabalho e também
para certos rituais a dois que não deixam de trazer satisfação desde que
subordinados aos propósitos do proletariado - enquanto a câmera rodeava por
onze vezes o corpo [perfeito, segundo extáticas testemunhas] da jovem. Olhando
firme a câmera [com quase orgulho] Juju encerrou levantando o braço [e
balançando leves os seios morenos] e gritando Viva a Revolução!
Em janeiro do ano seguinte o
resultado foi mostrado a Lênin. A versão de que foi isso que causou o derrame
que o matou, embora apócrifa, não deixa de acariciar o ego amhitariano.
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Este conto faz parte da série de
366 contos do gênero fantástico Efemérides de
Amhitar, publicada ao longo de 2013, todos com um máximo de 1500
espaços.
O auditor Paulo Avelino atua na
Secretaria Regional do Ceará e escreve contos, literatura digital e Direito Administrativo.
É um dos coordenadores deste blog.
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