E Utkirbek Rahman recebeu a
visita de Jesus Cristo! O profeta adentrou pela janela do seu apartamento
[décimo-terceiro andar do edifício Os
Mistérios da Nova Amhitar]. Acomodou-se no sofá, cruzou as pernas, ajeitou os
pequenos óculos redondos e pediu uma guitarra elétrica [Utkirbek só tinha um
violão] e três gramas de uma substância proibida [que o anfitrião não possuía –
a polícia política confiscara uma parte e Utkirbek acabara de queimar o resto].
Jesus cantou baladas até bobinhas
de garotas lindas pela qual supostamente estaria apaixonado, falou de
embarcações amarelas e mandou imaginar um mundo novo [algo estranho para quem
pode criá-lo, mais estranho ainda que o carregado sotaque inglês que trazia].
Jesus falou não em três
[trindade], mas em quatro pessoas [das quais ele mesmo seria um] naquele agosto
de 1969. Pronunciou para um atarantado Utkirbek a misteriosa frase
Sou mais popular do que eu mesmo.
Devolveu o violão, coçou o nariz
debaixo dos óculos e desapareceu tão macio que o anfitrião nunca soube como.
Só soube [logo que o outro dera
as costas] que não foi o Profeta que o visitara [de resto nisso não haveria
grande mérito – não são poucos os que relatam ter visto Jesus].
Utkirbek entendeu – Ele o visitara. E decidiu dedicar sua
vida a seguir os passos dele. Rahman não mais existia – ele agora era Utkirbek
Lennon, um dos poucos a ter visto John – ao menos tão de perto e com tal nível
de franqueza.
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Este conto faz parte da série de
366 contos do gênero fantástico Efemérides de
Amhitar, publicada ao longo de 2013, todos com um máximo de 1500
espaços.
O auditor Paulo Avelino atua na
Secretaria Regional do Ceará e escreve contos, literatura digital e Direito Administrativo.
É um dos coordenadores deste blog.
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