Acordei
cedo da manhã com um buzinaço ensurdecedor. Os sinos das igrejas repicavam e o
foguetório tomara conta da cidade. Parecia que a população por inteiro saíra às
ruas vestida de verde amarelo com o sorriso largo nos lábios denotando o
orgulho nacional.
Grupos
de jovens, mãos entrelaçadas, entoavam o hino da Pátria com o vigor da idade e
o fôlego da esperança. Um sentimento coletivo de euforia incendiava a alma das
pessoas.
Todos
estavam possuídos de uma motivação cívica, conscientes de que logo a seguir
deveriam se deslocar para o trabalho nas empresas e órgãos públicos. O sentimento
popular apontava para a contribuição a ser proporcionada ao Estado em seu
crescimento econômico e na qualidade dos serviços públicos, máxime nas áreas da
educação, saúde e segurança, dentre tantos outros reclamados pela sociedade.
O
extravasar da emoção estava argamassado, alicerçado nos princípios mais sólidos
da ética e da moralidade, pilares fundamentais da cidadania.
Olhei
para o relógio e os ponteiros marcavam cinco horas. O mar preguiçoso se
espraiava verde nas areias brancas da praia. O firmamento mais azul do que
nunca via as brancas nuvens da paz se deslocarem rumo ao infinito. O verde dos
bosques, as flores do jardim vicejavam ao leve sopro da brisa matinal no
despertar das urbes sob o sol da democracia.
As
janelas das casas mostravam-se, em meio ao casario, vestidas com as cores da
nação brasileira.
Indormido,
pois havia chegado do exterior pela madrugada, não atinava para a explosão de
entusiasmo das pessoas, de forma tão ruidosa e espontânea. Procurei informar-me
sobre o que estava acontecendo com o primeiro passante: dele ouvi a lúcida
explanação sobre o novo momento vivido pelo Brasil. Estava acontecendo o
primeiro grande evento dentre os vários programados para aquele ano de 2050
pelo Estado para homenagear cientistas, pesquisadores, estudantes, artistas,
profissionais liberais, empresários, agricultores, por sua atuação em favor do
desenvolvimento nacional, sob o manto da construção cidadã nas majestosas
arenas nacionais.
Apertei
as mãos, lancei meu olhar para os céus, Toquei-me por inteiro. Estava acordado.
O chão que pisava era mesmo o do solo brasileiro. Havia sido ejetado para o
futuro a fim de assistir ao coroamento de meus sonhos mais sagrados de justiça
social, correção das desigualdades sociais, econômicas, o fim da corrupção e
dos abusos de autoridade.
Havia
chegado ao ano da graça em que o povo usufrui do pão de seu trabalho e se
delicia com o lazer saudável.
Compreendi
naquela hora quão importante é lutar por seus sonhos, trabalhar em cima de
ideais, investir na formação de uma gente solidária e fraterna.
Santa
utopia de poeta que se torna realidade quando a Nação põe vergonha na cara e aposta
em investir no talento, edificando um Estado que tenha e um povo que seja.
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Ubiratan Diniz de Aguiar é Ministro aposentado do Tribunal de Contas da União e membro da Academia Cearense de Letras. Reside atualmente em Fortaleza (CE)
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