Baixo [mais até que nas fotos]
bigode encerado e capote cinza, o Chefe
entra no elevador. Arrasta a voz:
- Como vai o aço, camarada?
- Vai bem, Camarada Secretário-Geral. A produção aumentou 200 por
cento.
-E o petróleo, camarada?
- Vai bem. A produção aumentou 300 por cento.
-E o algodão, camarada?
- Vai bem. A produção aumentou 400 por cento.
-E este elevador?
- É o mais moderno, Camarada Secretário-Geral. Um orgulho da indústria
Soviética.
O Chefe cofia o bigode. A voz arrasta o dobro:
- Este elevador está parado, camarada. Até você está me traindo.
E o camarada acordava, o suor a gelar o travesseiro.
Sete membros da cúpula do Partido
alegaram [posteriormente e de forma não totalmente verossímil] ter tido o mesmo
pesadelo na véspera da visita do Generalíssimo I. V. Stalin a Amhitar hoje em
1947. Iria inaugurar mais conquistas da
Revolução Proletária e de quebra, ser o primeiro a passear no primeiro elevador
do país, que constava do primeiro arranha-céu [do alto de seus nove andares].
A vinda detonou pesadelos para os
burocratas do Partido e ameaças para jovens mecânicos, advertidos 999 vezes de
que tudo deveria funcionar, senão...
Senão Nada. Stalin não veio. A
explicação oficial é que assoberbado por
uma complexa conjuntura externa, o Guia Genial dos Povos teve de se privar
deste importante périplo. [A explicação não-oficial – que um caviar de
esturjão estragado o prendeu ao banheiro do Kremlin – é considerada por demais
humilhante ao país].
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Este conto faz parte da série de
366 contos do gênero fantástico Efemérides de
Amhitar, publicada ao longo de 2013, todos com um máximo de 1500
espaços.
O auditor Paulo Avelino atua na
Secretaria Regional do Ceará e escreve contos, literatura digital e Direito Administrativo.
É um dos coordenadores deste blog.
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