terça-feira, 13 de maio de 2014

O Primo Basílio (parte 7/10) - Peça Teatral de Marcelo ASSIS

Mudança de iluminação.

Jorge entra.
Jorge – Tu estás tão linda quanto naquele verão no qual eu me apaixonei por ti! Os seus cabelos lindos, o seu jeito de andar, os seus olhos tão meigos.
Luísa – Eu no começo não gostei de ti, porque não gostava de homens barbados – acariciando a barba de Jorge – mas depois vi que era a primeira barba e que era muito fina, rente e muito macia. E mesmos sem amá-lo sentia ao seu lado uma fraqueza, uma dependência e uma vontade de adormecer encostada no seu ombro e de ficar assim muitos anos, confortável, sem receio de nada! Me senti nas nuvens quando tu me disseste: Vamos casar, hem!
Jorge – Foi de supetão Todos disseram que eu casei no ar! Mas eu sabia que era você! O dia do nosso casamento foi o dia mais feliz da minha vida!
Luísa – Um dia de nevoeiro tão denso que nada tinha contorno tudo me parecia como um sonho antigo. No meio de toda aquela névoa, poucas coisas se destacaram, como a cara do padre e de uma senhora horrorosa que ficava rogando praga nas pessoas durante a saída da igreja. Acho que estava morrendo de medo da minha nova vida
Jorge - Mas logo se adaptaste, porque se tornou uma excelente dona de casa, me sentia o mais feliz dos homens ao seu lado.
Luísa – Tu era meu marido, era novo, forte, bonito, alegre e tão bom para mim, que logo passei a te adorar. Passei a nutrir uma curiosidade constante de tua pessoa e das suas coisas! Te comparava aos maridos das outras e me orgulhava de ser sua esposa. Tu sempre me tratavas com as delicadezas de um amante, ajoelhando-se aos meus pés e com tanto dengo. Você passou a ser meu tudo, a minha força, o meu destino, a minha religião, o meu homem! Agradeci a Deus, por não ter me casado com Basílio.
Mudança de iluminação.
Luísa – Ah!
Jorge – O que é?
Luísa – O jornal está informando que meu primo Basílio está vindo a Portugal! Deve chegar por estes dias à Lisboa, vindo de Bordéus, o senhor Basílio de Brito, bem conhecido da nossa sociedade. Sua excelência que, como é sabido, tinha partido para o Brasil, onde se diz reconstruíra a sua fortuna com honrado trabalho, anda viajando pela Europa desde o começo do ano passado. A sua volta à capital é um verdadeiro júbilo para amigos de Sua Excelência que são numerosos. E são!
Jorge – Bom pra ele! E vem com fortuna, hem?
Luísa – Parece!
Jorge – Naquele instante, eu não entendia que a desgraça estava vindo do estrangeiro para se abater sobre a minha vida!
Luísa – Nem eu!
Jorge – Tens certeza!
Luísa – o que queres dizer?
Jorge – Ao leres a notícia, não pensastes nele? No amor que tiveram no passado?
Luísa – Juro que não?
Jorge – Parecia tão animada ao comentar o seu retorno! Será que não era algo que você aguardava silenciosamente dentro de ti?
Luísa – Não havia nenhuma maldade em mim quando li a notícia.
Jorge – Então, porque estavas tão animada com a volta de alguém que havia partido o seu coração no passado?
Luísa – Porque ele não significava mais nada para mim!
Jorge – E por que ficasse tão feliz!
Luísa – Porque ele era o meu primo!
Jorge – Um primo que machucou o teu coração!
Luísa – Mas, eu já o havia perdoado, porque tinha me apaixonado por ti!
Jorge – Mas tu concordastes com a notícia quanto ao fato dele ter muitos amigos! Parecia que o adorava! Pensei que o adoravas como prima, mas ambos sabemos que isso não era verdade!
Luísa – Jorge, tu viestes me atormentar na minha morte!
Jorge- Só quero saber a verdade!
Luísa – A verdade, que a minha história com Basílio era um livro cuja história não tinha terminado! Eu me iludia que havia sido finalizada, mas estava no meio. Havia algo em mim que clamava por esse fim. Eu tinha que ser Basílio! Eu não sabia, mas só assim para nossa história ter seu fim.
Jorge – Quando eu te disse: Vai ficar sem o seu maridinho, hem? Tu ficastes feliz, pensando que talvez teu primo viesse te procurar?
Luísa – Não pensei em nada! Eu te juro! Fiquei inclusive triste com a sua viagem! E como senti a tua ausência! Se não tivesse me sentindo tão só...., eu te imaginava triste e solitário morrendo de saudades de mim, minha única alegria era pensar que tu estavas também pensando em mim, bem como sentindo a minha falta também. Mas quando Basílio veio, parece que me esqueci de tudo! Parece que o meu coração havia voltado no tempo, para uma época na qual eu ainda não te conhecia. Para ele só existia Basílio e seus caprichos tolos e atenções hipócritas pelos quais ele se comovia. Minha mente ainda tentou lutar contra, mas depois vendo que era inútil se entregou ao que exigia o meu coração tirano! Mas lembras quando tu retornastes?
Mudança de iluminação.
Luisa – Quando tu voltastes, meu coração abandonou o passado e voltou para o presente, Basílio só era uma recordação patética que eu fazia questão de esquecer! Só tu me interessavas! Com a tua chegada, a alegria voltou a tomar conta da minha alma, mesmo com Juliana me infernizando e torturando, quando estava a sós contigo em nossa alcova, eu era a mulher mais feliz do mundo. Pensava em Juliana, que por mais que me infernizasse nunca conhecera e nunca iria conhecer o prazer que sentia.
Jorge – Sim, tu de noite eras outra! Passei até a chamar-te de ave noturna. Ficava em êxtase vendo-te dançar, rir e cantarolar com seus braços e colo nus, o prazer que isso me dava era tanto que quando te amava em nossa cama, eu me sentia no paraíso....
Luísa fica desconcertada ao ouvir a palavra paraíso.
Jorge – Mas infelizmente não era comigo que tu se sentias no Paraíso, hem?


Jorge tira do bolso e entrega a Luísa a carta. Luísa pega a carta e começa a ler.

(continua na parte 8/10)

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Marcelo Assis da Silva é Técnico de Finanças e Controle Externo e atua na Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas. Estudou roteiro na Escola de Cinema Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro e montou e dirigiu o espetáculo “Swing Tântrico” também no Rio de Janeiro. “O Primo Basílio” é uma adaptação teatral do romance de Eça de Queiroz.

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