Luísa começa a rir.
Luísa
– Divino!
Basílio toma outro gole e dá outro beijo
nela.
Mudança de iluminação.
Basílio
– Até que enfim! Por que não viestes ontem?
Luísa
– Ah! Se tu soubesses..., Basílio, eu estou perdida!
Basílio
– O que foi?
Luísa
– Juliana descobriu tudo sobre nós! E estar em poder de algumas cartas!O que me
resta é fugir!l me leva! Tu não me
disseste várias vezes que este era o seu maior desejo! Estou pronta!
Basílio-
Enlouqueceste? Isso lá é questão de fugir? É uma questão de dinheiro! É ver o
quanto ela quer e pagar.
Luísa
– Não! Eu não posso ficar! Ela pode vender a carta, mas vai guardar para sempre
o segredo, podendo falar a qualquer tempo para Jorge, ou contar a alguém numa
indiscrição! E Eu estarei perdida! Basílio, Se Jorge sabe ele me mata!
Basílio
– Fugir será um escândalo maior! Pode ser muito bom nos romances, mas irá
destruir a sua reputação! Além disso, já lhe disse, é apenas uma questão de
dinheiro...
Luísa
– Então diga!
Basílio
– eu estou dizendo...
Luísa
– Não queres!
Basílio
– Não!
Luísa
– Ah Basílio! Então, vai me abandonar a minha própria sorte!
Basílio
– Luísa, me escuta!
Luísa
– Foi por te escutares que me encontro nessa situação! Por que me disseste
tantas vezes que eu seria feliz se eu quisesse?!
Basílio
– E se meter comigo num vagão para Paris em fuga e lá se tornar minha amante é
felicidade?
Luísa
– Eu saí da minha casa para sempre!
Basílio
– Mas vai voltar! – furioso – é só dá a sua criada dinheiro! É isso o que
ela quer!
Luísa - e onde eu vou arrumar o dinheiro?
Basílio
– É claro, que o dinheiro vai ser meu! Não tenho muito, estou meio atrapalhado,
mas enfim..., se a criatura quiser duzentos mil-réis, paguemos! Ou até
trezentos mil-réis, mas pelo amor de Deus, não faças outra, não estou aqui para
pagar as tuas distrações a trezentos mil-réis cada uma!
Luísa
– Não vai ser necessário, nem na próxima e nem nesta! Se é uma questão de
dinheiro, quem irá pagar sou eu! Como você disse a distração foi minha!
Basílio
– Como pretendes fazer?
Luísa
– Vou pedir, vou empenhar, vou trabalhar, até me prostituir! O que te importa?
Basílio
– Estamos apenas nos irritando e dizendo tolices! Tu não tens dinheiro!
Luísa
– Se queres mesmo me fazer um favor, fala tu a ela e arranja tudo. Eu não quero
tornar a vê-la. Se a vejo, morro! Eu te juro!
Basílio
– Estás doida? ! Se eu for falar com ela, ela vai querer muito mais! Isso é
contigo. Eu te dou o dinheiro, mas tu terás que se arranjar sozinha!
Luísa
– Nem isso me fazes!
Basílio
– Com diabos, não!
Luísa
– Adeus!
Basílio
– Tu estás fora de si, Luísa!
Luísa
– Não se preocupe, a culpa foi minha! Eu é que tenho que arrumar tudo!
Basílio
– Luísa! O que queres tu fazer? Não podemos romper assim! Escuta...
Luísa
– Então fuja comigo! Salva-me!
Basílio
– Caramba! Se estou te dizendo que não é possível!
Mudança de iluminação.
Basílio
– Minha querida! Vou ter que partir de Lisboa, negócios! Por pouco tempo, três
semanas, no máximo um mês! Se fossem só os meus interesses, mas há os
interesses de outros..., - retira um papel do bolso e mostra para
Luísa - aqui está o telegrama que recebi esta manhã – entrega a Luísa – Lê, peço-te que leia!
Luísa
– Para quê? - Começa a ler – Venha, graves complicações. Presença absolutamente necessária. Parta já. Então partes?!
Basílio
– É forçoso.
Luísa
– Quando?
Basílio
– Esta noite.
Luísa
– Bem, adeus!
Basílio
– Tu é tão cruel, Luísa! Falastes à
mulher?
Luísa
– Está tudo arranjado!
Basílio
– Não banques a orgulhosa, digas a verdade, porque eu não quero deixá-la em
dificuldades. Falastes com ela?
Luísa
– Está tudo arranjado, eu já disse!
Basílio
– Em todo caso é possível, é natural que haja outras exigências – abrindo a carteira – seria melhor que
eu deixasse um pouco de dinheiro contigo...
Luísa
– Adeus!
Luísa
começa a sair.
Basílio
– Luísa, tu não me compreendeste!
Luísa
– Compreendi, Basílio, obrigada. Mas não, não é necessário. Estou nervosa, por
favor não prolonguemos mais isto... adeus...
Basílio
– Mas sabes que volto dentro de três semanas...
Luísa
– Bem, então veremos.
Basílio beija Luísa na boca, que não reage
ao beijo.
Basílio
– Nem um beijo queres me dar?
Luísa
– Adeus!
Basílio
– Adeus!
Luísa
– Três semanas, no máximo um mês? Essa foi a última vez que te vi! Tínhamos
palpitado o mesmo amor e cometido a mesma culpa! Tu partistes alegres, levando
as recordações romanescas da aventura e eu fiquei nas amarguras permanentes do
erro! É assim que é o mundo!
Basílio
– Foste tu que recusastes a minha ajuda!
Luísa
– Mas depois me arrependi e te escrevi, e o que ocorreu? Nenhuma resposta! Onde
andavas tu? Em Paris retorcendo o bigode e dormindo com outras! E tu dissestes
que viveria aos meus pés como um vassalo! Enquanto ela fora a mulher alegre,
que vem despe o corpete, mostra o lindo colo, tudo muito bem! Bastou uma
dificuldade, chorar, sofrer, ah isso não! És um belo animal que me dás um
grande prazer terás tudo o que quiseres! Mas tornas-te uma criatura dolorida que precisa de
consolações, talvez uns poucos de centos de mil-réis e então boas noites, porque vou-me embora!
Como a vida é estúpida! Ainda bem que eu estou a deixando! Mas antes de ir,
gostaria de te dizer, que ainda não estou indo sem saber o grande engano que
foi o nosso caso. E que agora eu sei quem tu és: um janota arrogante, egoísta,
vaidoso, fútil, sem nada nesse seu coração! Também, te digo que ainda coisa boa
nesse nosso caso, foi descobrir que nunca te amei, porque tu és uma ilusão e
não se ama uma ilusão, porque elas não são reais! As ilusões só servem para uma
coisa, para abrir nossos olhos para o que existe de verdadeiro, no meu caso, o
amor pelo meu marido! Agora, podes ir para a França viver a sua vida inútil!
Agora que sei quem tu és, tu vales menos do que nada para mim! Vai te embora,
anda!
Basílio sai.
(continua na
parte 7/10)
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Marcelo Assis
da Silva é Técnico de Finanças e Controle Externo e atua na Secretaria de
Controle Externo de Aquisições Logísticas. Estudou roteiro na Escola de Cinema
Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro e montou e dirigiu o espetáculo “Swing Tântrico” também no
Rio de Janeiro. “O Primo Basílio” é uma adaptação teatral do romance de Eça de
Queiroz.
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